No post de hoje quero bater um papo com você sobre um tema da área dermatológica que me preocupa: a harmonização facial. Esse já é um termo do qual eu não gosto, pois ele parte do pressuposto de que as pessoas não tenham um rosto harmônico.
A partir daí, o que vemos é uma uniformização facial. Com a entrada de muitos profissionais não qualificados no ramo da estética, muitas das técnicas utilizadas por eles não compreendem as especificidades de cada rosto e, no fim das contas, nos deparamos com uma série de rostos… iguais. Ou bem similares!
O incômodo que sinto ao ver profissionais e pacientes tratando a demanda dessa forma – não há harmonia em um rosto perfeitamente normal – me fez escrever esse texto. Primeiro, para te dizer que existem situações em que a harmonização facial é indicada não para modificar um rosto, mas para, de fato, harmonizá-lo.
Segundo, para te alertar quanto aos procedimentos feitos de forma irresponsável ou não-personalizada, que podem tirar seus traços de identidade a troco de nada. Será que vale a pena se despedir do rosto que você sempre conheceu, e que é só seu, para ter um rosto igual ao de todo mundo?
Para que essa reflexão seja feita, vamos partir do início.
Apesar de ser um termo recente, a harmonização facial é um procedimento com o qual a dermatologia já trabalha há alguns anos. Significa tratar o que incomoda o paciente através do uso de técnicas da estética, como aplicação de toxina botulínica, ácido hialurônico ou outras técnicas/tecnologias.
Assim, o termo pode soar novo nos consultórios, mas já vem sendo estudado há muito tempo.
Em linhas gerais, é isso: embelezamento da face através de procedimentos de estética.
O nome “harmonização facial” vem sendo vulgarizado de uma forma que me preocupa. E acho que tenho razão em ficar preocupado: cada vez mais pessoas fazem esse tipo de tratamento e o que a gente tem visto, como resultado, é a completa uniformização da face.
São bocas constantemente mais volumosas, maçãs do rosto cada vez mais insufladas, ângulos de mandíbula bem quadrados, mentos projetadíssimos… perceba que, mesmo que isso não seja harmônico para o rosto da pessoa que se submete a um desses procedimentos, eles são tratados como harmônicos para os padrões da sociedade.
Convencionou-se que a pessoa só é bonita se estiver em um padrão que alguém aprovou sem o seu consentimento. Por exemplo: às vezes a pessoa tem um queixo pequeno e isso é bonito pra ela, pois faz completo sentido no design do seu rosto. Mas o “padrão atual de beleza” diz que o queixo tem que ficar a não sei quantos milímetros da linha tal da face e, pronto, isso é o suficiente para que ela se submeta a algo que não vai harmonizar sua aparência.
No fim das contas, as pessoas estão ficando cada vez mais parecidas! E isso não é legal, pois a beleza reside justamente nas diferenças e nos detalhes únicos que são marcas de cada um de nós.
Quando a harmonização facial faz sentido?
“Então, Dr. Lucas, quer dizer que você não faz procedimentos de harmonização facial?”, você pode me perguntar. E eu te respondo: faço, e muito! Em alguns casos, a harmonização facial é bem-vinda e eu fico feliz em ajudar meu paciente se ele fizer parte de um de dois grupos, que são:
- o dos que sofrem com envelhecimento da pele (com a perda de coxins gordurosos profundos da face).
- o dos que possuem algum ponto de desagrado em sua estética facial.
Quando perdemos coxins gordurosos profundos, a pele desaba, dando um aspecto de muito cansaço e tristeza aparente. Aí, a harmonização facial é bem vinda.
Existem os casos raros em que não há envelhecimento facial ou perda brusca de coxins gordurosos, mas o paciente tem algo que o incomoda tanto que acaba lhe trazendo um prejuízo emocional. Nesses casos, a estética pode intervir a favor da pessoa, pois a autoestima está em jogo.
São nessas situações bem específicas em que eu indico procedimento estético. E, mesmo assim, sem o objetivo de transformar o paciente em uma pessoa completamente diferente.
Qual é a melhor técnica de harmonização facial?
Quando faço harmonização facial aqui na Clínica Lucas Miranda, gosto muito de uma técnica de preenchimento chamada MD Codes. Com ela, a gente injeta ácido hialurônico em pontos específicos da face a partir da intenção de reestruturá-la, causando um efeito lifting, de tração, sem grandes volumizações.
Com MD Codes os resultados são naturais, ficam bonitos e não deixam o paciente transformado. Assim, conseguimos melhorar a questão estética discretamente.
Para entender se você deve ou não fazer uma harmonização facial, siga minha linha de raciocínio: quando um paciente me procura no consultório, ele não tem que sair de lá 20 anos mais novo. Ele tem que sair com a mesma idade e – por mais que seja clichê – se sentindo na sua melhor versão. Mais descansado, menos triste ou flácido, com menos estigmas negativos na face, mas sem estar modificado.
Voltar no tempo é impossível. Por mais que um paciente acredite ficar tantos anos mais jovem a partir de um procedimento estético, esses anos que passaram não lhe serão devolvidos. O melhor a se fazer, então, é envelhecer com saúde e com a beleza de cada idade, suavizando as linhas que pesam no rosto, mas de maneira natural, e fazendo intervenções tão discretas que o paciente se sentirá bem com elas, mas ainda se reconhecerá no espelho.
É para isso que a tecnologia serve: para nos deixar satisfeitos com nossa aparência, com os traços que são únicos a cada um de nós. Não para nos fazer ter a mesma cara – e, pior, deixá-la cada vez mais deformada com preenchimentos desnecessários.
Não sei de onde as pessoas tiram que esse é o novo padrão de beleza. Eu sempre vou preferir, como padrão de beleza, as delícias que cada um encontra em ser exatamente o que é.